quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Resumo da Entrevista de King à Simon & Schuster

Full Dark, No Stars
Ontem, dia 8 de Dezembro, Stephen King deu uma pequena entrevista de meia hora aos seus fãs, pelo site da Simon & Schuster, com o objetivo de promover seu mais novo livro, "Full Dark, No Stars". King respondeu perguntas sobre o livro, e também sobre suas outras obras. A seguir a tradução do resumo das perguntas e respostas feitas ao mestre do horror moderno, postada no blog Talk Stephen King.

Sobre 1922: "Eu acho que ler [essa história] será uma experiência quente."

Sobre Big Driver, ele pega atalhos?: "Não! Essa seria minha esposa. (Referência ao conto "O Atalho da Sra. Todd) É a minha esposa quem sempre está tentando abreviar alguns minutos entre o ponto A e o ponto B. Mas ela geralmente leva bem mais tempo."

Fair Extension, por que Streeter não se sentiu culpado?: "Em minha cabeça várias vezes temos uma inveja profunda que não deixamos transparecer no dia a dia. Nós temos amigos onde há uma sub-corrente de ciúmes. Eu comecei a me perguntar, como seria se o diabo fosse um negociante honesto?"

Qual história é a sua favorita?: "São todas minhas crianças. "Há coisas em todas elas que eu gosto. É como quando alguém pergunta, qual dos seus filhos você mais ama?"

Qual é a inspiração para o título do livro?: "Nós tínhamos o livro. Nós tínhamos quatro histórias. Pelo menos outros dois livros como esse têm histórias longas, Quatro Estações e Depois da Meia-Noite. Elas são histórias órfãs. As histórias em Full Dark, No Stars, não há revistas que imprimam histórias deste tamanho. 75 mil palavras no máximo. Elas são pequenas demais para serem novelas. As quatro histórias juntas precisavam de um título. Eles me pediram por um... eu queria ter um tipo de tema de algo que pudesse ser lido depois do crepúsculo."

Em 1922, ratos fazem um papel importante. Por que ratos?: "Porque ratos são nojentos. Ratos são assustadores. Eu escrevo sobre as coisas que mais me assustam. Quando as pessoas me perguntam o que me assusta, elas esperam alguma resposta grandiosa como "morte" ou "vida após a morte" (Se existir uma). O que mais me assusta é o que assusta a maioria das pessoas. Acordar e descobrir que sua cama está cheia de aranhas."

Como você pode entender personagens femininos com tanta habilidade?: "Eu fui criado pela minha mãe. Eu casei com uma mulher que tem cinco irmãs. Todas têm personalidades fortes. Eu tenho uma assistente que cuida da minha vida no escritório. Sério, eu acho que para um escritor o ato de imaginar tem a ver com um número de coisas. Uma é a habilidade de pôr um vestido se você for um homem, ou por calças se for uma mulher. Eu li um livro em meu primeiro ano da faculdade, "Love and Death in the American Novel". O livro dizia que os escritores Americanos não entendiam as mulheres. Escritores de Hemingway à Falkner não se dão muito bem com mulheres. As mulheres ou são nulas, ou destruidoras. Eu pensei que se fosse para eu viver de escrever, eu teria que aprender a fazer melhor do que isso. Eu tenho personagens que são mulheres muito sombrias (Annie Wilkes). Eu tento seguir tratando as mulheres com justiça, com tanta textura quanto possível".

Há algum significado da figura na frente da capa do livro?: "Nós tínhamos que ter uma capa. Eles me perguntaram se eu tinha alguma idéia. Tantas das histórias são sombrias, ao menos duas delas lidam com mulheres em circunstâncias terríveis. A imagem que veio à minha mente foi de uma mulher com a cabeça abaixada, segurando a cabeça. O que eu vi não foi exatamente a capa. Não parece com qualquer outra das capas. Eu disse a pose que eu queria e o diretor de arte disse que ela parecia estar com uma dor de cabeça dos diabos!"

Possui algum outro tipo de criatividade além de escrever?: "Eu toco violão. Eu tenho uns dois carros rápidos. Uma Harley Davidson. Eu gosto disso. Eu tive um acidente há alguns anos. Eu estava apenas andando, mas se eu estivesse em uma motocicleta, eu teria ficado bem! Levei uma motocicleta para Austrália há poucos anos."

Você planejou conectar seus livros?: "Do modo como eu vejo, a maioria destes livros, eu penso nestas pessoas que existem em um certo universo. Eu trabalhei nisso durante A Torre Negra onde eles estão todos conectados. Eu gosto da idéia de personagens retornando. Eu gosto da idéia de que há um mundo lá fora onde Danny Torrance e Charli McGee poderiam ser casados. Eles teriam crianças maravilhosas. Eu gosto da idéia de voltar e visitar estas pessoas novamente. Eu acho que elas estão conectadas!"

Qual foi o livro mais divertido de escrever?: "Christine, eu diria! O carro que corre por si só. Foi demais quando eu tive a idéia. Eu tinha um carro velho. Eu pensei, não seria legal se o odômetro corresse ao contrário, e enquanto isso acontecesse, o carro se curasse? Sabe de uma coisa, eu gosto da maioria. Na maioria das vezes eu me divirto. É incrível eu ter sido pago para escrever esse, porque eu me diverti pra caramba."

Qual das histórias [de Full Dark, No Stars] você adaptaria?: "Eu já escrevi um roteiro para "A Good Marriage".

O que ainda te deixa emocionado quando você lê livros?: "Você os analiza como no colégio? A maioria apenas se divertem com a história. Eu vi algo ontem à noite do cara que escreveu "A Hero's Journey", ele disse 'quando você senta em algum lugar e a leitura é boa você está em estado de baixo êxtase'. Eu acho que há uma verdade nisso."

Você acha que os contos estão se tornando uma arte perdida?: Em certo ponto. Eles são mais difíceis de vender. Há um ponto de vista de vários autores de que uma novela é um Cálice Sagrado. Eu vejo pelos leitores que contos podem ser difíceis. Uma vez que você é envolvido, você quer ficar envolvido por um longo período. Se eu estivesse lecionando que o livro de contos insensível é aquele que seria aquele que diria "por favor, fique quieto.".

É verdade que você escreve 8 horas por dia?: [se isso fosse verdade]"Eu atiraria em mim mesmo! Eu escrevo mais ou menos 3 horas por dia."

O quanto o rock influenciou sua escrita?: "Eu ouço muito metal, trash. Eu gosto de tudo! Disco também é legal. Eu consigo ouvir o barulho das pessoas atirando em suas próprias cabeças quando eu digo isso. Eu gosto da batida que direciona as músicas de rock".

segunda-feira, 11 de outubro de 2010


É PRECISO UM VILAREJO PARA ESCONDER UM SEGREDO

ANALISANDO "HAVEN - 1ª TEMPORADA"

Haven


Introdução


Baseado fracamente no livro "The Colorado Kid", Haven é a nova série baseada em um trabalho de Stephen King. A trama gira em torno da agente do FBI Audrey Parker, que é mandada por seu chefe até Haven, um vilarejo no Maine, para procurar um fugitivo. Após resolver o caso, Audrey percebe que suas raízes com Haven são mais profundas do que ela pensava, pois ao ver uma mulher muito parecida com ela em um antiga foto em um artigo de jornal sobre a morte do "Rapaz do Colorado", ela resolve permanecer em Haven para cavar mais fundo.
Como personagens coadjuvantes, temos Nathan Wuornos, o filho do chefe da polícia local (além do próprio chefe), e Duke Crocker, um misterioso e politicamente incorreto rapaz que os ajuda. A cada episódio Audrey vai tentando descobrir mais sobre seu passado em Haven enquanto tem que lidar com as ameaças conhecidas como "Problemas", um evento que aparentemente ela mesma disparou, fazendo com que algumas pessoas em Haven despertem poderes paranormais que nem mesmo sabiam que possuiam.

Personagens

Audrey, a personagem principal da série, contraria o perfil comum de uma agente do FBI, que por natureza seria rude e descrente (vide Dana Scully). Uma coisa que vai contra o seriado, e acredito que muitos tenham essa mesma queixa, é que diante dos eventos sobrenaturais que ela presencia, para ela tudo aparentemente parece ser aceitável. Diferentemente de sua colega de trabalho de Arquivo X, Audrey leva tudo na maior naturalidade, sem se lembrar que há pouco tempo nem sabia que tais poderes existiam em pessoas. Apesar disso, Audrey tem carisma. Um personagem principal sem carisma seria um desastre, e os produtores devem agradecer a Emily Rose, a linda atriz que dá vida a Audrey. Não só a beleza da moça conta como ponto a favor em seu carisma, como também seu bom humor, até mesmo em situações que deixariam em pânico qualquer um, Audrey sempre aparece com uma piadinha (tá, na maioria das vezes são sem graça), sobre o que está acontecendo. Obviamente que isso funciona como um aliviador de pressão, afinal Haven não um seriado de terror, e nem pretende assustar ninguém. Pense que Smallville casou com Arquivo X e teve uma linda filhinha, eis Haven. Os segredos que giram em torno de Audrey é o que mantém a chama da série acessa. Ao final da temporada descobrimos que tudo o que pensávamos que sabíamos a respeito da agente foi por água abaixo. Deixando-nos aflitos para saber o que vai acontecer em seguida. Em outras palavras, Audrey é uma boa personagem principal, e do jeito que está tende a só melhorar, vamos torcer para isso.

O segundo personagem em ordem decrescente é Nathan Wuornos. Nathan é uma daquelas pessoas "Problemáticas", ou seja, ele não é normal. O "poder" de Nathan é não ser capaz de ter sensações corporais, se ele se queima, se alguém bate nele, ou se ele leva algum outro tipo de golpe, dificilmente cairá, tornando-o um aliado muito valioso quando o assunto é porrada. Nathan é aquele típico personagem quieto, reservado e tímido. Quando Audrey adentra sua vida, Nathan percebe que existe alguém que pode compreendê-lo, já que ele não tem lá muita simpatia pelo próprio pai, que está sempre cobrando que ele dê o melhor de si para estar preparado quando ele se for. Outra coisa que se pode falar sobre o policial é que ele é muito correto e fará de tudo para cumprir seu dever, e esse aspecto choca-se violentamente contra ao caráter do personagem que analisaremos em seguida.

Duke Crocker é um nativo de Haven que está sempre tentando sobreviver da única maneira que consegue: vendendo artigos ilegais em seu barco. Duke é mais um valioso amigo de Audrey devido aos seus contatos e sua inteligência para estar sempre um passo a frente de alguma ameaça. Canastrão, mulherengo e charmoso, é o perfil de Duke em poucas palavras. Entretanto apesar de toda a carcaça de masculinidade e ilicitude, Duke tem um coração, e está (quase) sempre pronto para ajudar Audrey por livre e espontânea vontade. Um dos temperos interessantes da série é o atrito entre ele e Nathan, como se descobre eventualmente, ambos já foram amigos de infância, mas Duke adorava sacanear Nathan, o que o deixou muito ressentido pelo resto da vida.

Roteiro

Haven não é lá a melhor série já escrita, mas tem seu charme. A coisa que mais me irritou durante a temporada inteira foi a insistência dos roteiristas em apresentarem um personagem e tentar nos fazer acreditar que o tal era o culpado pelos problemas mostrados no episódio, apenas para no último ato do episódio, nos revelar que era outra pessoa a responsável. Você pode achar que é exagero meu, mas acredite, não é. Em quase 90% dos episódios de Haven, este artifício é apresentado. Como já dito anteriormente, o fato de Audrey aceitar tão rapidamente a nova realidade que a cerca é um pouco forçada demais, e essa não é a única coisa que é apressada. Espero sinceramente que eles controlem a velocidade dos acontecimentos em Haven na próxima temporada.

Se por um lado temos esses pontos negativos, também temos os positivos. Os episódios apresentam aquele tom leve de aventura, ficção-científica, humor-negro e mais alguns outros gêneros, tudo isso misturado ao "problemático" da semana. Na maioria das vezes a história do episódio é interessante, a exceção dos primeiros que podem parecer bem bobinhos, lentos e chatos. Mas para aqueles que desistiram de ver a série por causa desses episódios, continuem a ver, vale a pena. Com o passar dos episódios a qualidade vai melhorando muito, e eu sei que muitos podem me condenar, mas em alguns aspectos a série pode lembrar LOST, principalmente no quesito "background mystery", enquanto lidamos com a vida das personagens, não podemos esquecer que um mistério muito maior os cerca, e eu creio que os roteiristas fizeram um bom trabalho construíndo os primeiros mistérios da série. Eu, pelo menos, estou ansioso para conferir as respostas das perguntas oferecidas na primeira temporada no ano que vem.

Considerações Finais

Para finalizar, eu diria que estou muito ansioso pela segunda temporada de Haven. De uma coisa pode-se ter certeza absoluta, Haven bate qualquer outra série baseada em algum trabalho de King (até mesmo The Dead Zone). É uma série divertida, voltada para a família, e que por conseqüência atrai um maior número de pessoas ao trabalho de King, o que é importante. Vamos esperar que os roteiristas continuem se superando episódio após episódio, e que com isso, Haven possa viver por muitas temporadas (acho que até a 5ª seria justo).

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

15 Questions: Rafael Albuquerque


15 Questions: Rafael Albuquerque

Rafael Albuquerque, 29 years old, began his career with drawings and illustrations for the brazilian advertising market. Next, in 2003 he worked with AK Comics, an egyptian comic publisher. There, he created his first characters. Two years later he founded the PopArt Comic Studio. He also worked for Dark Horse Comics, Boom! Studios, and DC Comics (doing some Superman, Batman, Robin). If you wish to know his work better, just go to his own website: www.rafaelalbuquerque.com

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ON CAREER

01- How your passion for comics was born?

Since my childhood, I think. My parents always bought them, and they [comics] were a constant in my life, as far as I remember.

02- What’s your favorite comic book?

I couldn't say exactly. I like a lot of comics, for different reasons.

03- What’s your favorite comic colorist/designer, and why?

It’s complicated to answer, too. I can say that the “economical” artists were the ones who inspired me the most. The one who don’t waste time with needless details and do the art focused on telling the story in the best ways. Eduardo Risso, Mike Mignola, Ivo Milazzo are big examples.

04- What is necessary to work as a comic designer/colorist?

I think discipline, focus, talent, and of course, the will to be part of this business somehow.

05- Tell us something about PopArt Comics Studio.

The PopArt was a studio that I created alongside my wife, Cris Peter (colorist of Casanova, for Marvel/Icon) with the objective of producing works to the american market, and introducing new artists. We wanted, also, to produce copyrighted materials (like Crimeland, released in 2007). But this format of studio/agency was very difficult to manage. We chose to finish those activities, keeping the enterprise only for legal purposes. Despite the fact of not being successful with it, it was a great experience, because I knew a series of phenomenal artists who keep working with me nowadays, like Eduardo Medeiros and Mateus Santolouco (co-producer of Mondo Urbano series, for Oni Press). I hope that somehow this has influenced their careers for the best.

06- What others comics do you design/color besides American Vampire?

I work on this Project, that I do alongside Mateus and Eduardo called Mondo Urbano. It’s a series of 5 copyrighted graphic novels, published by Oni Press and focus on different stories of the urban everyday. They are all connected with each other. It’s a great narrative exercice, because we work with 3 others authors, 3 different styles e we are creating a great story. We are very excited with the american reception of the series, and happy with the performance that it had here in Brazil.


ON STEPHEN KING

07- Did you meet King personally? If yes, how was it?

I didn’t personally, but we exchanged some e-mails and I can say it was a great experience. He is a very nice guy and very accessible. I sent to him a copy of Mondo Urbano. He was very kind, and gave us a quote for the book cover.

08- Did you know his work before American Vampire? If yes, you have a favorite book?

I knew him briefly. I never was a big fan of horror, still I like some things. Since I’m not a person who reads so much, I started to know his works better after American Vampire. I have watched some movies based on his books, though.

09- Is there any story (or adaptation) by Stephen King that you would like to draw/color?

Ah, maybe "The Shining", but I never read the book.


ON AMERICAN VAMPIRE

10- What’s your favorite protagonist, Skinner Sweet or Pearl Jones?

I like them both. They have charisma and are tough. In fact, with the progress of the story, we will realize that they are more alike than we think.

11- Do you know how many issues American Vampire will have? Do you plan to draw/color every one of them?

I think Scott [Snyder] has an Idea of how many there will be, but, obviously, this depend on the success of the sales and the return that is given to Vertigo. We can count on at least 2 more years. Sadly, I won’t be able to draw every issue. We will have guest artists between the arcs, my plan is to continue doing it until the end of the series, drawing the main arcs.

12- From the first arc, what’s your favorite issue, and why?

I loved the fourth one. I think that, artistically it is very well-made. I like the first one, but I was very tense with the new style, so I think this one is a little inconstant.

13- What do you think of the scripts of Scott Snyder for Pearl’s story, and Stephen King’s for the “birth” of Skinner?

Outstanding. I love the way that they work with me. Collaborating, giving ideas, listening ideas. I think this is the greatest way to do comics and I’m happy that everyone did it this way.

14- What was your inspiration to create Skinner Sweet?

We wanted him to be a criminal with a pinch of rockstar. More or less like Jack Sparrow. Kurt Cobain was, without a doubt, a great visual inspiration, but we wanted an unpredictable guy, like The Joker, you know? I think we created a great character.

15- Can you tell us anything about the next arc of American Vampire?

The next arc takes place some time after and introduce some new characters. Our “hero” is Cash McCogan, an impulsive cop with a dark story and the daughter of Abi and Book, Felicia. Of course we will have Skinner, too. But showing him in a different way. We are now in the 30’s. All that gangsters and mafia stuff. I think the readers will like it.


15 Perguntas à Rafael Albuquerque - O Desenhista de American Vampire


15 Perguntas à Rafael Albuquerque

Rafael Albuquerque, 29 anos,

iniciou a sua carreira com desenhos e ilustrações para o mercado publicitário brasileiro. Em seguida, no ano de 2003, passou a trabalhar para a AK Comics, uma editora de quadrinhos do Egito. Lá ele criou seus primeiros personagens, além de ajudar na definição da linha editorial da empresa. Dois anos depois fundou com alguns amigos desenhistas a PopArt Comic Studio, um estúdio que produzia para editoras estrangeiras (uma delas a Image Comics, que lançou no mercado em 2007 a sua primeira graphic novel, Crimeland).

Dentre os trabalhos mais marcantes de Albuquerque, além de American Vampire, estão Jeremiah Harm, na qual colaborou com Alan Grant e Keith Giffen (criadores do personagem Lobo) na Boom! Studios, Wonderlost e 24Seven (indicado para o prêmio Will Eisner) na Dark Horse Comics, entre outras histórias de Robin, Superman, Batman e outros para a DC Comics

Para quem quiser conferir mais sobre o trabalho de Rafael, acessem seu site: www.rafaelalbuquerque.com.


SOBRE A CARREIRA

01- Como nasceu sua paixão por HQ's?
Acho que desde criança mesmo. Meus pais sempre compraram, e sempre foi algo presente pra mim desde que consigo me lembrar.

02- Qual sua HQ favorita?
Não saberia dizer. Gosto de muita coisa, por motivos diferentes.

03- Qual seu desenhista de HQ's favorito, e por quê?
Também é complicado responder. Posso dizer que os artistas "econômicos" são os que mais me influenciam. Aqueles que não perdem muito tempo em detalhes desnecessários e fazem a arte focada em contar a história da melhor maneira. Eduardo Risso, Mike Mignola, Ivo Milazzo são grandes exemplos.

04- O que é necessário para uma pessoa trabalhar como desenhista de quadrinhos?
Acho que disciplina, foco, talento, e, de fato, a vontade de fazer parte dessa indústria de alguma forma.

05- Fale para nós um pouco sobre a PopArt Comics Studio.
A PopArt era um estúdio que criei juntamente com minha esposa, Cris Peter (colorista de Casanova, para Marvel/Icon) com o objetivo de produzir trabalhos para o mercado americano, além de apresentar novos artistas. Em paralelo a isso, queriamos produzir materiais autorais (como Crimeland, que lançamos em 2007). Acontece que este formato de estúdio/agência era muito dificil de administrar, especialmente, em paralelo com meu trabalho como artista. Optamos então por encerrar estas atividades, mantendo a empresa apenas para fins legais.
Apesar de "não ter dado certo" aparentemente, foi uma grande experiencia, pois conheci uma série de artistas fenomenais com quem trabalho hoje em dia, como o Eduardo Medeiros e o Mateus Santolouco (com quem produzo a série Mondo Urbano, para a Oni Press). Espero que de alguma maneira isso tenha influenciado a carreira deles para melhor.

06- Que outras HQ's você desenha atualmente além de American Vampire?
Trabalho em paralelo com este projeto, que faço juntamente com o Mateus e o Eduardo chamada Mondo Urbano. É uma série de 5 graphic novels autorais, publicadas pela Oni Press e enfoca diversas histórias do cotidiano urbano. Todas elas relacionadas umas com as outras. É um grande exercício de narrativa pois trabalhamos com 3 autores, 3 estilos diferentes e estamos criando uma grande história. Estamos bem empolgados com a recepção da série nos EUA e felizes com o desempenho que teve aqui no Brasil.


SOBRE STEPHEN KING

07- Você conheceu King pessoalmente? Se sim, como foi a experiência?
Não o conheci pessoalmente, ainda, mas trocamos alguns e-mails e posso dizer que foi uma grande experiência. Ele é um cara muito legal e acessível. Mandei uma cópia de Mondo Urbano pra ele. Ele foi muito gentil, cedeu um "quote" para a capa do livro, inclusive.

08- Você já conhecia o trabalho dele antes de American Vampire? Se sim, tem algum livro favorito?
Conhecia brevemente. Nunca fui um grande fã de terror, apesar de gostar de algumas coisas. Como não sou um cara que lê muito, passei a conhecer a obra de Stephen depois de começar American Vampire. Assisti alguns filmes baseados em sua obra, entretanto.

09- Existe alguma história de King que você gostaria de transpor para os quadrinhos (mesmo só tendo visto a adaptação)?
Ah, talvez "O Iluminado", mas nunca li o livro.


SOBRE AMERICAN VAMPIRE

10- Qual seu protagonista favorito de American Vampire, Skinner Sweet ou Pearl Jones?
Gosto dos dois. Eles têm carisma e são durões. Na verdade, ao longo da história, acho que percebemos que eles são mais parecidos do que se pensa.

11- Já se é sabido quantas edições a série vai ter totalmente? Você planeja desenhar todas?
Acho que Scott [Snyder] tem uma idéia de quantas edições a série vai ter, mas, obviamente, isso depende do sucesso de vendas e do retorno que isso dá para a Vertigo. Podemos contar com pelo menos mais 2 anos. Infelizmente não poderei desenhar todas as edições. Teremos artistas convidados entre arcos, mas meu plano é continuar até o fim da série, desenhando os arcos principais.

12- Do primeiro arco, qual foi a edição que você mais gostou de desenhar, e por quê?
Gostei bastante da 4ª. Acho que, artisticamente é a mais bem feita. Gosto da primeira também, mas estava meio tenso por conta do novo estilo, então acho um pouco inconstante.

13- O que você achou dos roteiros de Scott Snyder para a história de Pearl, e Stephen King para o "nascimento" de Skinner?
Muito bons. Gosto muito da maneira como eles trabalharam comigo. Colaborando, dando idéias, ouvindo idéias. Acho que é o grande jeito de fazer quadrinhos e estou feliz que todos colaborem desta forma.

14- De onde veio sua inspiração para criar Skinner Sweet?
Queriamos que ele fosse um criminoso com um ar de rockstar. Mais ou menos como o Jack Sparrow foi criado. Kurt Cobain foi, sem dúvida, uma grande inspiração visual, mas queríamos um cara imprevisível. Meio como o Coringa, sabe? Acho que conseguimos fazer um grande personagem.

15- O que pode nos adiantar do próximo arco de American Vampire?
O próximo arco se passa algum tempo depois e apresenta novos personagens. Nosso "herói" é Cash McCogan, um impulsivo policial com uma história sombria e a filha de Abi e Book, Felicia. Claro que teremos Skinner, também, mas mostrado de uma maneira diferente. Estamos agora nos anos 30. Todo aquele clima de gângsters e máfia.
Acho que os leitores irão curtir.
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SKBrasil agradece a gentileza e o tempo concedido por Rafael Albuquerque e que você tenha muito sucesso no futuro.

domingo, 5 de setembro de 2010


NO FUTURO, A MARATONA É UM ESPORTE DE MATAR

ANALISANDO "
A LONGA MARCHA"

The Long Walk - Signet
A Longa Marcha foi o segundo romance de King escrito por seu pseudônimo, é uma das histórias mais violentas escritas com o nome Bachman, felizmente um violência necessária que nos faz meditar. Na história, 100 garotos se escrevem por livre e espontânea vontade na corrida que dá título à história. O prêmio se resume a qualquer desejo que você queira. Entretanto chegar ao final da marcha não é fácil.

Dotada das regras mais brutais, A Longa Marcha não é para qualquer um. Aqueles que não tiverem um porte físico adequado certamente morrerão Sim, morrerão, de acordo com as regras, aquele que diminuir a marcha recebe uma advertência, após receber três delas, o participante é friamente executado, enquanto os outros seguem na competição.

A história gira em torno do protagonista Ray Garraty, um rapaz com seus próprios problemas que inevitavelmente faz amizade com um grupo que corre na marcha. O que acontece com as pessoas ao seu redor e a perseverança de Ray são os pontos principais do livro. Neste romance, King cria uma história inteligente que interage diretamente com o leitor, o que será explicado no final da análise, embora isso possa nos causar certa vergonha.

Fome, frio, calor, fadiga, cãibras, e balas. Os jovens vão experimentar de tudo nesta competição, é uma prova como nunca mais terão, que poderá levar à uma vida totalmente realizada, ou à morte prematura. Posicionem-se, aprontem-se e comecem a caminha, a análise segue em frente,

Heróis e Vilões

Por ser o personagem principal da história, Ray pode ser considerado o "herói" dela. Também, ele é constantemente ovacionado pelo público, cada vez que passam por espectadores. Mas a verdade é que Ray é apenas mais um garoto no meio de outros 99. Ele não tem nada de especial. Ray tem uma mãe a quem ele evita às vezes, e uma namorada que, no decorrer da marcha, significará muito mais pra ele do que se pensava. O pai de Ray foi há muito levado pelo governo (o motivo não é muito bem esclarecido). E o fato problemático de sua vida, que nas histórias de King parece ser uma regra para cada personagem, é que quando criança tivera uma ereção brincando nu com seu melhor amigo, e tempos depois o acertando com uma coronhada. Ray não tem motivo certo para correr, como ele mesmo fala diversas vezes durante a história, mas a verdade é que poucos lá têm.

O participante que se torna o melhor amigo de Ray é Peter McVries. Um sujeito amargurado por ter sido deixado pela namorada, que assustada o feriu, deixando uma feia cicatriz no queixo. Essa é basicamente toda a história que recebemos sobre Pete, fora isso ele é um rapaz durão que se torna amigo de Ray e dos outros rapazes. No livro Peter representa a balança que mede o equilíbrio entre a sanidade e a lucidez.

Gary Barkovitch é o que se pode chamar de vilão, afinal toda história precisa de um. Barkovitch insiste em ficar provocando boa parte dos candidatos, incluindo Ray e seus amigos, e seu veneno não tem limite, sugerindo até que poderia dançar em cima dos corpos dos rapazes que fossem executados. Barkovitch, durante uma briga com outro participante, acaba provocando a morte desse, quando o garoto insultado, que já tinha as três advertências, tropeça. A partir daí, toda vez que resolve abrir a boca pra soltar uma gracinha, Pete o chama de assassino, o deixando bastante nervoso. Barkovitch passará o resto da marcha provocando os outros e clamando que vencerá a Longa Marcha.

Por fim, temos Stebbins, um garoto um tanto curioso. Stebbins não tem físico de atleta, e à primeira vista poderia se dizer que ele seria o primeiro a morrer. Mas Stebbins tem um motivo secreto para alimentar sua determinação, que no final das contas o levará bem longe. Stebbins tem a função de representar a sanidade completa. É ele o único personagem que permanece sempre lúcido, até o fim da marcha. Entretanto, Stebbins é considerado muito mais vilão do que Barkovitch, porque enquanto Gary apenas xinga e provoca, as palavras de Stebbins, como Ray bem sabe, penetram bem mais fundo, uma habilidade que ele sabe possuir, e que pode, se aplicada corretamente, diminuir consideravelmente o número de corredores.

Mas no fim das contas, eles são apenas garotos. Todos eles têm seus desejos, suas saudades, suas fraquezas, e mesmo Barkovitch e Stebbins no fim das contas mostram isso. A verdade é que A Longa Marcha não possui vilões, pelo menos não entre os corredores.

As Regras

Como já dito, a principal regra da marcha são a das três advertências, mas é claro, existem outras. Primeiro, não se deve usar tênis, eles dão calos facilmente; a próxima diz que deve-se ir devagar, isso o levará longe; em seguida outra regra importante, não se deve interferir na marcha dos outros competidores; poupar fôlego e energia são outras regras. Há também algumas regras que os participantes vão descobrir na prática. Alguns tentam escapar no meio da multidão, ou correndo pra fora da marcha, mas os guardas responsáveis pela vigia da guarda executam seu trabalho de maneira perfeita, matando todos que ousarem "trapacear" de um jeito ou de outro. Os participantes não podem parar por muito tempo, ou receberão uma advertência, tal penalidade é apagada se o participante consegue ultrapassar a hora seguinte sem receber outra.

Não se sabe ao certo quem criou as regras d'A Longa Marcha, aparentemente foi o Major, personagem que é retratado como uma espécie de deus, aparecendo no início da marcha para informar aos competidores sobre as regras e fazer a chamada, aparecendo esporadicamente durante o percurso, e depois no fim para congratular o vencedor.

Com as regras em mente, os garotos têm que se virar para seguir em frente, chegando ao ponto de terem que "evacuar" andando, seja urina ou fezes. Água, por sua vez,direito assegurado, e qualquer participante receberá um cantil cheio quando pedir. Esse é um dos poucos luxos que os participantes terão. Não há paradas, não há descanso, e por cinco dias 99 jovens marcharão rumo à m
orte, e o último que sobrar, se ainda estiver em condições de viver lucidamente, ganhará o grande prêmio: o que quiser.

O Verdadeiro Vilão

Nós. Tanto o "nós" literário, quanto o real servem. Barkovitch e Stebbins não são nada comparados às pessoas que criaram A Longa Marcha, muito menos às pessoas que apoiam a competição. Cada vez que cruzam uma cidade, os participantes se aproximam do contato humano. Os espectadores ovacionam, aplaudem, riem, gritam, e se você pensa que eles param quando testemunham a execução de um participante, está muito enganado. Ao contrário, eles gritam, ovacionam e aplaudem ainda mais alto. Assim como em "O Concorrente", King faz questão de mostrar o lado podre do ser humano. Aquele que deseja ver a desgraça acontecer;

Já dizia um velho mestre que se você testemunha um acidente é mais fácil você olhar o que aconteceu por pura curiosidade do que ir ajudar o acidentado, e King não poderia traduzir tais palavras de um modo melhor. Enquanto lentamente os participantes vão se acostumando verem um dos seus tendo os miolos estourados, tudo isso é novidade para as pessoas que assistem à Marcha ao vivo, desnecessário dizer que eles ficam eufóricos toda vez que há um movimento novo dos personagens, como por exemplo uma fuga, ou uma briga.

Porém o que faz A Longa Marcha ser o livro estupendo que é não é a incrível habilidade que King tem ao narrar uma corrida sem ficar chato ou repetitivo utilizando-se de nenhum cenário em particular e poucos objetos de interação,e sim a grande sacada que King teve em construir bons personagens que serviriam de isca para fazer o leitor ser apenas mais um espectador, entre tantos no mundo de Ray Garraty.

Atire a primeira pedra aquele que não ficava ansioso quando King anunciava que um dos personagens principais estava começando a ter cãibras ou estiramentos musculares. Atire a primeira pedra aquele que não queria ver Barkovitch morrer, ou pior, Stebbins que apesar de seu porte frágil e seu veneno chegava bem longe. Essa é a magia da literatura bem escrita. Não se sinta horrível por desejar a morte de personagens, mesmo que isso possa, de certa forma, refletir uma falha de seu caráter. Afinal de contas, nem o Papa é santo, como se diz. E essa é justamente a intenção de King ao escrever A Longa Marcha, provocar aquela faísca que compõe nosso lado negro, acordá-la e exercitá-la um pouco, levando-a a uma longa e prazerosa marcha.

sábado, 4 de setembro de 2010


O MAL PASSA ATRAVÉS DELE

ANALISANDO "O APANHADOR DE SONHOS"
O Apanhador de Sonhos - Capa Brasileira

Introdução

Em 2003 a Castle Rock Entertainment lançou sua 7ª produção baseada em uma história de Stephen King. Com um elenco não tão estelar, com a exceção de Morgan Freeman, e talvez Tom Sizemore, o filme não agradou muito ao público. Confesso que quando vi o filme, antes de ler o livro, pela primeira vez, achei-o excelente. Pode-se se dizer que o filme foi o que deu uma guinada pessoal ao mundo de King, de fato foi o filme que resgatou um flerte adormecido.

De qualquer forma, mais ou menos um ano depois, quando finalmente pus as mãos no livro, fiquei bestificado ao ler a última palavra. Fiquei muito feliz pelo menos até metade do livro, porque achei que o filme seguia à risca as pegadas do livro, mas me enganei. Óbvio que uma adaptação cinematográfica exige certas mudanças, não sejamos hipócritas de achar que um filme pode funcionar perfeitamente utilizando palavra por palavra do filme que se baseia. Entretanto o choque que eu, e provavelmente vários, tive/tivemos ao constatar que o filme simplesmente chutara a metade final do livro pra escanteio e resolvera inovar, caminhando com suas próprias pernas, foi grande. Só que piorou ainda mais quando, ao brevemente meditar a respeito, percebi que as mudanças tinham sido para a pior. Quase como se os produtores do filme quisessem dizer "Vejam, estão gostando do filme até agora, não estão? Então esperem até daqui a pouco, e não saiam daí até o final".

O final totalmente aloprado contribuiu, e muito, para moldar a opinião de muitos, mas isso será debatido mais adiante. Como fã, fiquei decepcionado ao finalmente comparar livro e filme, e ver que a adaptação tinha tanto potencial, e que só não foi alcançado por pura má vontade e ganância dos produtores de Hollywood que acham que todo santo filme de ficção-científica ou ação tem que ter por obrigação algum tipo de "batalha final explosiva". Vamos logo começar esta análise, que mais uma vez eu relembro, você não é obrigado a concordar.

Os Atores

Comecemos por um dos meus tópicos favoritos: os atores. Para analisar cada um, é necessário também uma comparação paralela com os personagens que eles representam. Morgan Freeman por exemplo é um completo desastre. Não pela sua atuação, longe disso (mas também não foi seu melhor trabalho como ator), mas pela caracterização do personagem. No livro, Abe Curtis é descrito como uma espécie de Schwarzenneger, loiro, fortão, um verdadeiro "ariano". Não me entendam mal, não é o fato de Freeman ser negro que atrapalha. Em "Um Sonho de Liberdade", o personagem de Freeman era para ser ruivo, branco, e irlandês, e até hoje não consigo ver outro ator que poderia ter representado o papel melhor do que o próprio Morgan Freeman. Abe Curtis simplesmente não é um personagem que conseguiu se encaixar perfeitamente com o ator. Nota-se isso quando seu personagem deveria soar paternal em relação ao seu subordinado Owen, que funciona espantosamente bem no livro, mas no filme fracassa, principalmente porque não química alguma entre Tom Sizemore e Freeman.

Sizemore, por sua vez, apresenta um nível regular de carisma e seu personagem constantemente nos deixa confusos sobre sua lealdade à Curtis. Até mesmo na cena em que ele está transportanto Duddits e Henry, ficamos na dúvida de que lado ele está (até que nos sejamos informados de que há um transmissor plantado por Curtis na arma dele), não que seja culpa de Sizemore, mas de qualquer forma, este "suspense" é inútil, e não deveria acontecer. Sizemore faz bem seu papel, que se resume a uma espécie de "joão-bobo", sendo socado de um lado para o outro, sem saber pra onde vai até o fim.

Se por um lado Morgan Freeman pareceu deslocado em seu papel, Jason Lee foi completamente Beaver. De longe, meu personagem favorito, tanto no livro, quanto no filme, e fiquei realmente satisfeito com o desempenho do ator. Jason Lee, é conhecido por muitos como o protagonista do extinto seriado de comédia "My Name is Earl", e vemos que apesar de se tratar de um filme de terror sci-fi, o alívio cômico, na forma de Beaver, funciona. É extremamente importante que nos indentifiquemos com os quatro amigos, eles são a base do filme, e se um deles tivesse sido mal construído, provavelmente não haveria sentido em sua corrente de amizade. Beaver é o palhaço do grupo, e sem duvida o mais leal dos quatro. Um dos pontos positivos do filme, foi ter dado mais destaque ao personagem, do que ao livro, mesmo que Beaver tenha sido o primeiro a morrer. Seu mérito é bem cedido na icônica cena do banheiro, e graças ao roteiro e atuação de Lee, sentimos muita dó, quando Beaver se sacrifica para dar tempo de seu amigo Jonesy escapar da "fuinha de merda".

Damian Lewis faz Jonesy, o personagem principal do filme. Por natureza Jonesy é um homem tranqüilo, mesmo após o acidente que quase o matou, portanto é evidenciado que Jonesy é o líder do grupo, ele também pode ser considerado o mais altruísta. Ao parar para ajudar um homem com uma estranha saliência estomacal e trazê-lo para sua cabana, Jonesy nem imagina que pôs em funcionamento as execuções de Beaver e Pete. Jonesy não é lá um papel revolucionário e marcante como Don Corleone, na verdade é muito simples, e Damian Lewis o faz satisfatoriamente. Há um bônus, entretanto. O personagem de Lewis é possuído por um dos alienígenas sobreviventes do ataque que Curtis lançou à nave-mãe que estava caída na região. Os produtores optaram por não colocar qualquer tipo de maquilagem em Lewis, deixando o Sr. Cinza/Gray à cargo do próprio Lewis. Este artifício é um faca de dois gumes para os chatos de plantão. Se por um lado isso enaltece o talento do ator, por outro confunde o telespectador mais desavisado,(embora não por muito tempo), pois pode-se confundir a possessão com um simples caso de dupla personalidade, fazendo-nos achar que Jonesy simplesmente enlouqueceu..

Pete e Henry são interpretados por Timothy Olyphant e Thomas Jane, respectivamente. Enquanto um representa a ingenuidade do grupo, o outro representa a insegurança. No começo do filme, Henry tenta se matar, mas é parado por seu elo sobrenatural com Jonesy, e durante todo o filme, nada mais faz do que fugir, até ser finalmente capturado por Curtis. Algo que realmente me deixa com aquele sentimento de justiça, pois o personagem não tem 1/5 da coragem de Beaver, e eles têm destinos que deveriam ter sido invertidos. A única utilidade de Henry no filme todo é levar Duddits para salvar o dia. Thomas Janes, que entraria em cena muito melhor, quatro anos depois em "O Nevoeiro", tem uma atuação apagada, e por vezes hilária. As cenas em que ele "interage telepaticamente" com os outros personagens é no mínimo tão constrangedora quanto as cenas de Morgan Freeman. Olyphant por outro lado tem a missão simples de interpretar Pete, um personagem que começa a se tornar alcóolatra, mas que no fim se redime por não se render às malícias do Sr. Cinza (e pagando caro por isso). Depois de Beaver, eu diria que Pete é o personagem com mais carisma, ele é aquele tipo de cara humilde que quer apenas encontrar uma garota pra se apaixonar mutuamente e ter uma vidinha pacata, mas feliz, também dá muita dó de vê-lo morrer, coisa que eu não sentiria se Henry ou Jonesy tivessem morrido.

Por fim vem Donnie Wahlberg, o irmão de Mark Wahlberg, ex-News Kids in the Block (é, eu tinha que falar), como Duddits, o "menino-grande especial". É ele que de alguma forma possui poderes sobrenaturais que passa a dividir com Jonesy e sua turma, após eles o terem salvo de ser humilhado por valentões na infância. O maior crédito para a caracterização de Duddits vai para o departamento de maquilagem, que o faz parecer realmente doente. Não que Wahlberg faça um trabalho ruim, só que assim como Tom Sizemore, ele tem uma atuação apagada, e não convence como um "retardado mental", o que é um erro grave, já que Duddits é o centro da história.

Trilha Sonora

A trilha sonora é orquestrada por James Newton Howard, que comete o erro de compor faixas de ação para um filme de ficção-científica. De fato, as músicas são boas, e tem um certo suspense, mas depois de um certo tempo ela se torna enjoativa, sem falar deslocada. Se a trilha tivesse servido para um filme de ação que tenta ser uma ficção científica (o caso inverso de O Apanhador de Sonhos", como "O Sexto Dia" de Schwarzenneger, Howard teria sido mais feliz no resultado final.

Livro vs. Filme

Eu li O Apanhador de Sonhos em 2009, portanto eu acho que não poderia me lembrar dos detalhes menores do livro para poder compará-los ao filme. Felizemente, do mais importante eu lembro, então vamos às comparações, não muitas, mas principais. Primeiro há a apresentação dos quatro amigos no começo do livro, que se mantém fiel até certo ponto (sem prejudicar nas mudanças), e que na época em que lia, praticamente passava o filme em minha cabeça. Temos o surgimento de McCarthy, o homem infectado pelo vírus alienígena, Beaver e Jonesy vs. a fuinha de merda, o acidente de Henry e Pete. E então pára. A partir dessa parte, tudo o que você vê no filme é uma modificação bizarra do livro. A perseguição de Abe em seu helicóptero é simplesmente chata, embora a perseguição dentro hummer (acho que era um hummer, não lembro direito). O Sr. Cinza também não parece ter qualquer necessidade física ao possuir Jonesy. Ao contrário do livro, que apresenta uma das passagens mais cômicas do livro, quando o Sr. Cinza, no corpo de Jonesy, tem um acesso de diarréia. O livro também se importa em nos contar os efeitos que o vírus alienígena tem nos humanos, que curiosamente sã bastante parecidos com os efeitos que a influência dos Tommyknockers exerciam sobre os humanos no livro "Os Estranhos", em especial a queda dos dentes. O filme por sua vez nos deixa confuso, mostrando apenas o alastramento da bactéria (aquele pó vermelho) nos objetos, animais e lugares, mas sem nos informar se isso no final das contas é prejudicial. O que o filme faz questão de frisar é que o mais prejudicial são os ovos das fuinhas de merda que são transportados dentro das pessoas, juntamente com a fuinha.

Por fim, a cereja do bolo do filme, a maior mudança de todas, que sem dúvida terminou de, com o perdão da expressão, cagar o filme. Se no livro, Stephen King já terminou o livro de uma maneira bizarra, fazendo Henry e Jonesy estrangularem o Sr. Cinza dentro da mente do próprio alienígena, Lawrence Kasdan e William Goldamn, responsáveis pelo roteiro , nos brindaram com um final ainda mais inacreditável. No fim das contas Duddits não era um retardado mental, ele era um alienígena de outra raça (uma raça boa), que veio para a Terra anos antes da invasão da raça Gray para se preparar e "tocar" um grupo de humanos para que eles pudessem ajudá-lo quando a hora chegasse. Pior que isso só a cena da batalha final entre o ET Duddits e o Sr. Gray, que ocorre na estação de tratamento de água de Derry, onde Duddits envolve o Sr. Gray, agora em sua forma original (que justiça seja feita, foi muito bem desenhada) em um campo de força que o prende, o que se vê do lado de fora é quase um bizarro e obsceno ato sexual gay entre dois alienígenas, com o Sr. Gray tentando se desvencilhar de Duddits desesperadamente antes que ele termine de se auto-destruir, matando os dois.

Claro que o Sr; Gray não tem sucesso, e é destruído juntamente com Duddits. O filhote de fuinha que se preparava para, literalmente, descer pelo ralo, e espalhar o vírus por todo o mundo é esmagado por Jonesy antes que possa atingir seu intuito. E assim termina o filme, de forma abrupta, nos deixando com uma expressão de "wtf?".

Destaque

Alguns fãs podem me condenar por não achar que a passagem de infância dos personagens, que para os fanáticos de longa data de "Conta Comigo" e até mesmo "A Coisa" é um prato cheio de nostalgia, seja o destaque do filme. Pessoalmente eu tenho outra cena em mente, que você já deve ter adivinhado. Sim, a cena do banheiro. Sem dúvida, de todos os 136 minutos que o filme oferece, apenas a seqüência do banheiro tem o autêntico suspense. É quase impossível você não falar ou pensar em xingar Beaver quando ele deixa cair seus palitinhos de dente (hábito em que o personagem é viciado), e mais ainda quando ele tenta desesperadamente alcançar o último palito limpo no chão, que está completamente sujo pelo sangue de McCarthy que acabara de sofrer uma diarréia nada convencional.

Enquanto Beaver aprisiona a fuinha de merda dentro da privada e tenta pegar seu palito de dente ao mesmo tempo, Jonesy procura pela fita adesiva na garagem, na esperança de lacrar a privada (já que a fuinha é grande demais pra descer pela descarga). Então temos os elementos perfeitos para um grande cena de suspense. A criatura presa, o personagem que faz a burrada, e o outro personagem que demora para chegar ao resgate. Jonesy infelizemente chega tarde demais, Beaver se rendeu ao vício dos palitinhos e ao tentar pegá-lo, escorrega e deixa a fuinha escapar da privada. Se você pensa que o suspense acaba aí, você está muito enganado, pois ele continua com a batalha sem esperança de Beaver para se salvar da fuinha, e depois disso quando Jonesy se vê frente a frente com o Sr. Gray.

Nota Final

Na minha concepção, O Apanhador de Sonhos merece um 6, e ainda acho que esteja lucrando. A quantidade de falhas é muito superior à quantidade de acertos. Quem assiste o filme pela primeira vez poderá ou não gostar do filme, mas com certeza repudiará ao assitir repetidamente, principalmente depois de ler o livro, que apesar de não ser o melhor trabalho de Stephen King, é imensamente superior ao filme. Como eu disse antes, se tivessem se esforçado e trabalhado duro na metade final do filme, O Apanhador de Sonhos tinha tudo para se transformar numa das melhores adaptações de Stephen King, é uma pena que apenas algumas cenas memoráveis não façam a fama ou tornem um filme uma lenda cinematográfica.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

TOMMYKNOCKERS, TOMMYKNOCKERS, BATENDO À PORTA ANALISANDO "OS ESTRANHOS"


TOMMYKNOCKERS, TOMMYKNOCKERS, BATENDO À PORTA

ANALISANDO "OS ESTRANHOS"


Introdução


Tommyknockers pode ser considerado um dos livros mais chatos pelos fãs, e pouco considerado como um bom livro por outros. A razão para isso pode ser o tamanho considerável do livro (638 páginas na edição da Francisco Alves), mas eu não acho que isso seria uma justificativa, porque a maioria das pessoas que não gostam do livro, prezam “A Coisa” ou “A Dança da Morte”. Então, que outros quesitos do livro poderiam influenciar tanto em uma opinião negativa do leitor? Talvez porque no fim das contas “Os Estranhos” seja um suspense de ficção-científica puramente psicológico. Isso porque nunca chegamos a ver os alienígenas que habitavam a nave, vivos e tentando dominar o mundo. Pode ser também a quantidade de personagens, que pode embaralhar sua mente. Pode ser o clássico fator de “encher a lingüiça” que King faz no livro II, “Histórias de Haven”, o que cansa o leitor e o deixa de mau-humor e “chateado com o livro”. Sim, Os Estranhos é um livro que caminha em passo de tartaruga, mas eu me arriscaria dizer que dos livros de ficção-científica que King produziu, tais como “O Apanhador de Sonhos”; “Buick 8”; e “A Incendiária”, “Os Estranhos” é o melhor deles.


Os Estranhos é um grande quebra-cabeça, e cada capítulo uma minúscula peça. Você pode desistir de montá-lo, montá-lo por puro perfeccionismo que não o deixa desistir de um livro, ou montá-lo com prazer. As pessoas desta última categoria certamente aproveitarão o livro melhor que as das outras, porque no fim das contas, a história dos Tommyknockers pode ter um final recompensador para alguns e frustrante para outros. Felizmente, para mim, pertenço ao primeiro grupo. Não nego que batalhei meu caminho entre as dezenas de sub-histórias que pareciam não ter qualquer ligação com as desventuras de Bobbi Anderson e Jim Gardner, mas no final, quando li o último diálogo entre o menino David e seu irmãozinho Hilly, quando eu li o último parágrafo, então, tudo fez sentido. Todos aqueles detalhes chatinhos e aparentemente impertinentes se encaixaram como uma luva, preenchendo todos os espaços, fazendo de Os Estranhos, uma história completa. Uma história com começo, meio e fim, sem espaço para discussões sobre o que aconteceria depois, ou mesmo o que aconteceu antes.


Qual nota eu daria para “Os Estranhos”? 8.7, e não seria uma homenagem ao ano de sua publicação, é só que não me parece justo dar 9, e muito menos 8.5. Eu ainda não reli “Os Estranhos”, mas a sensação que eu tenho é que no dia em que eu o fizer, será mais fácil, e bem mais gostoso, quase como ver a revelação de como funciona um truque grandioso de mágica, não feito pelo pequeno David, mas por um mágico-rei espetacular, e que tudo estava ali em frente aos meus olhos, e eu não percebi. Para qualquer fã de Stephen King, gostando ou não, é necessário ler este livro. Não só para se arriscar a chegar ao final, mas também para presenciar um dos livros mais obscuros do mestre, onde a esperança de um final feliz é raramente brilha. Como já visto na ficha do próprio livro no site, “Os Estranhos” foi escrito na época em que King passava por uma fase difícil em sua vida (leia-se brincando com entorpecentes), e Jim Gardner é um reflexo claro do autor, quiçá o personagem mais “Kingiano”, mas quanto a Jim, deixemos para analisá-lo daqui a pouco.


Como todos os outros livros que eu já li, das quais surgirão mais artigos, faz um bom tempo desde a última vez em que pus os olhos neles pela última vez. Mas tentarei fazer o meu melhor para não atropelar qualquer detalhe, ou perverter algum outro. E se porventura o fizer, me desculpem. E é assim que vamos começar essa análise sobre o livro: Um pequeno tropeço para o homem, um grande salto para Haven.


Os Personagens Principais

Graças aos céus existe uma coisinha chamada “sintetização”, e por isso que eu sou vou analisar as duas personagens principais do livro. Deus me livre de ter que passar o raio-x em cada um dos habitantes de Haven... Como Os Tommyknockers rapidamente se trata de uma história de zumbificação, não há como traçar perfis de pessoas que agirão e pensarão igual. O que importa saber é que foram Jim e Bobbi, existem aqueles que estão imune aos alienígenas, e os que foram possuídos, e que ambos lutam uns contra os outros pelo futuro da humanidade.

Logo, espere o mesmo quando a hora de analisar “Trocas Macabras” chegue. Uma coisa que vira clichê em vários filmes e seriados que tratam especificamente de uma cidade é o famoso slogan “toda cidade tem seus esqueletos dentro do armário”. A Haven de “Os Estranhos” certamente não foge à regra. Independentemente da influência que é liberada pela nave após Bobbi Anderson cavar e cavar e cavar cada vez mais fundo, os habitantes têm seus próprios segredinhos sujos. Não que a maioria deles importe, na verdade estes tais segredinhos não servem muito para a trama principal, sendo apenas um meio de King dar ao nome suas características. De qualquer forma, eu não quero cair no mesmo erro de King, ou pelo menos aos olhos de algumas pessoas, de ficar enchendo lingüiça, então sem delongas, vamos começar a análise destas duas personagens por Roberta “Bobbi” Anderson.

Bobbi, como é carinhosamente apelidada é uma famosa escritora de livros, que assim como Richard Matheson, gosta de escrever romances de “bang-bang”. Ela vive em sua fazenda em Haven, juntamente com seu cãozinho Peter, e é isolada do restante da cidade, preferindo ficar em paz, isto pelo menos até tropeçar em um objeto metálico enterrado em seu quintal. Bobbi não tem marido ou filhos, até mesmo Gard é só um amante passageiro, nos deixando pensar que Bobbi Anderson é uma loba solitária. A principal diferença entre a Bobbi normal, e a Bobbi transformada pelos Tommyknockers é a pura e simples obsessão por construir (assim como o restante das personagens). Bobbi se torna mais inteligente, a ponto de escrever e terminar uma novela inteira em tempo recorde de dias. Pessoalmente, acho Bobbi a personagem mais pobre já criada por King (por isso a falta de mais características nesta análise), e ela serve apenas como uma espécie de condutor entre a ameaça dos Tommyknockers, e o herói da história, Jim Gardner, passando o restante da história como uma zumbi que não pára de trabalhar.

James Eric Gardner, por sua vez, é um dos mais ricos personagens criados por King, talvez seja pelo mero fato de que Gard é King, e King é Gard, em até certo ponto. Se você ler entrevistas do autor e parar para analisar a personagem, vai encontrar algumas curiosas semelhanças entre os dois. Por exemplo, na cena em que Gard discute com os convidados da festa sobre os perigos das usinas nucleares, King está apenas emprestando sua própria opinião à história (ele já disse que acha que o mundo acabará com uma guerra nuclear). Como já observado, King bebia e se drogava enquanto escrevia “Os Estranhos”, e Gardner, que não podia ficar de fora, é descrito como um ébrio inveterado. Independente de sua fraqueza por bebidas, Gardner é a última esperança de Haven, graças a uma placa de metal, implantada em sua cabeça depois de um acidente. Placa esta que o imuniza da influência dos alienígenas, assim como Ev Hillman. É interessante que todos em Haven, sem estarem sob influência dos Tommyknockers, já detestam Gard. Quando já estão “possuídos”, os habitantes partem numa caçada selvagem ao homem, principalmente quando descobrem que ele está imune. Gard é um personagem inseguro, porém espirituoso, não é só o retrato literário de King, mas como de várias e várias pessoas ao redor do mundo. Várias pessoas que lêem o livro, e que necessariamente não precisam ser viciadas em álcool, se reconhecem na figura de Jim, e quando isso acontece, sabemos que o autor criou um personagem marcante.

Os Ambientes


Como “Os Estranhos” é o único livro cuja história acontece em Haven (apesar da cidade ter sido citada em “A Coisa”, um ano antes), era imperativo traçar um perfil completo da cidade. E é para isso que serve o intitulado “livro II” que descreve o surgimento da cidade no início do século 19, dos nomes que ela possuiu antes de se firmar como Haven, e a razão para que cada nome surgisse. Logo após, King traça o perfil dos principais habitantes “atuais” da cidade, como Becka Paulson, cuja sub-história é tão bizarra que chega a ser hilária, independentemente de seu trágico fim (juntamente com seu marido); Ev Hillman, o veterano que tenta ajudar Gard a acabar com a ameaça alienígena; os meninos David e Hilly Brown (que faz uma divertida excursão até Altair-4) e mais alguns outros.

Mas, descrever uma cidade fictícia inteira não é uma tarefa fácil, e devemos dar méritos a King, que se preocupa com os menores detalhes, colocando monumentos e até uma torre com um relógio. Tantos detalhes ocupam uma grande parte do livro, o que pode irritar alguns leitores que são loucos pela ação contínua. Mas, o fato é que o homem já está acostumado. Após criar Derry, 'Salem's Lot, e Castle Rock, nada mais fácil do que dar vida a Haven e seus habitantes estranhos. E o pior (ou melhor) é que ele consegue fazer a coisa funcionar, de modo que ao adentrarmos o mundo do livro, podemos ver facilmente ver as ruas de Haven, a fazenda de Bobbi, e tantas outras locações que King magistralmene traçou com o passar da trama.

Outro ambiente interessantíssimo é a nave dos alienígenas. Quase como um labirinto de metal fedorento, Gard tem que correr para chegar até a sala de controle, no clímax do livro. As escadas tem degrais finos, como se fossem teias de aranha, como o próprio King descreve. Quando a nave levanta vôo, o chão fica invisível, dando a impressão de que o personagem está flutuando no ar. É uma fantástica descrição que faz homenagem aos saudosos filmes de ficção-científica da década de 40 e 50, que arrepiavam tantas pessoas em seções no drive-in, mesmo que as fantasias dos alienígenas fossem ridículas.

Os Tommyknockers


E que grande homenagem é "Os Estranhos" ao mais famoso livro de Jack Finney. Diferentemente de "Invasores de Corpos", os alienígenas de Tommyknockers não estão vivos. De fato, morreram há milênios durante a queda da nave, sendo enterrados pela erosão, que infelizmente, para os habitantes de Haven, não foi perfeita. Apesar de estarem mortos, os alienígenas deixaram para trás um pode malígno que ainda vivia. Uma espécie de fragância, ou influência, ou luz, tanto faz. O importante é que assim que Bobbi desenterrou a nave, este mal foi libertado, e lentamente foi dominando cada um dos habitantes de Haven, fossem homens, mulheres, ou mesmo crianças. Por alguma razão, aqueles que possuiam placas de metal implantadas no corpo não eram dominados pelos Tommyknockers. Não que isso de fato ajudasse, afinal, como se deveria matar um inimigo que não tem forma e controla aqueles com quem você convive no dia a dia?


É isto que torna a ficção-científica do livro, psicológica em sua maior parte. Claro que temos mortes violentas, palavrões, e tudo mais que King adora embutir em suas histórias. A violência neste caso se origina das habilidades concedidas pela influência alienígena, que torna os habitantes de Haven imensamente mais inteligentes, no melhor estilo MacGyver, onde se usam objetos do cotidiano para construir verdadeiras máquinas letais. Um bom exeplo é o menino David, que teletransporta seu irmão para outro planeta usando alguns objetos que encontrou por aí. Eis mais um obstáculo para Jim Gardner e os outros "sobreviventes".


Em uma das passagens mais memoráveis do livro, uma máquina de refrigerantes da Coca-Cola, que graças a sabedoria dos agora crânios de Haven tem auto-controle, sai voando em direção a um homem chamado John Leandro, que tentava invadir Haven para descobrir o que estava acontecendo, e adivinhem só, o acerta em cheio.


Mas quem são os terríveis Tommyknockers? Para começar este não é nem mesmo o nome deles. Lendas urbanas (e rurais) citam os Tommyknockers como espécies de duendes ou anões, que vivem em cavernas, atormentando e até matando quem quer que passe pelas escuras galerias que compõem sua moradia. O paralelo que King faz ao nomeá-los Tommyknockers (num pensamento quase involuntário de Gard) é que tanto os duendes quanto os alienígenas estão "enterrados" e passam a atormentar e matar todos que vêem quando liberados. Tanto é que no final do livro, Gard, já dentro da nave, vê os cadáveres dos alienígenas, que cá pra nós, são um dos tipos mais bizarros já descritos: cara de cachorro, mais altos que o humano, olhos coloridos leitosos, narizes achatados (além de serem assexuados!)...


O Final


Que muita gente detesta os finais dos livros de King, isso não é novidade. Entretanto, "Os Estranhos ofecere uma grata surpresa aos amantes de finais bons. Contrariando toda as expectativas, não que ele sequer tenha prometido um no desenvolvimento do livro, não temos um final feliz, ou pelo menos isso depende da perspectativa do leitor. Quando Gard se vê obrigado a matar sua querida amiga Bobbi ao compreender que ela jamais voltará ao normal, as pessoas que ainda não haviam entendido a escuridão que cobre a história desse livro, passam a entender na marra. Logo, Gard adentra a nave dos Tommyknockers, enquanto os habitantes possuídos tentam alcançá-lo, após receberem uma última transmissão telepática de Bobbi.


Para encurtar, na sala de controles Gard descobre um computador maravilhoso e com ele, consegue trazer o pequeno Hilly Brown, que estava no distante planeta Altair-4, são e salvo para seu irmãozinho. São poucas as pessoas com final feliz, arriscaria a dizer que Hilly e seu irmão (que até perderam os pais) seriam julgadas as únicas, ou não. Quando Jim Gardner se sacrifica, ativando a nave e lançando-a espaço sideral afora (com ele dentro dela), ele está sorrindo. Nunca saberemos se Gard realmente chegou a morrer de perda de sangue (ele atirou na própria perna sem querer depois de executar Bobbi), ou se vagou eternamente pelo espaço. Não interessa. O final de King é simplesmente poético, não pelo fato de ao levantar vôo, Gard ter matando quase todos os habitantes possuídos de Haven. Nem pelo fato do FBI, CIA, e "A Oficina" terem exterminado todos os outros sobreviventes que tentavam fugir da cidade. É poético porque é ao mesmo tempo um final triste, e um final feliz.


E para terminar mais uma análise, se você possuir este livro e tem preguiça de lê-lo, ou terminá-lo, dê à Tommyknockers mais uma chance. Sim, o livro é um carro, e a primeira marcha é sempre lenta, mas a medida em que você for acelerando, pode confiar, vale a pena. É definitivamente interessante aos fãs ver Jim Gardner interagindo com Jack Sawyer (O Talismã), Beaver (O Apanhador de Sonhos, embora não é oficial que seja o mesmo personagem, embora não criaria qualquer furo na história, principalmente porque o Beaver que Jim conhece tem a idade certa para ser o Beaver de mais tarde, além de ter um senso de humor bastante engraçado), ouvindo personagens falarem de Cujo (Cão Raivoso), Charlie McGee (A Incendiária), Johnny Smith (A Zona Morta). Enfim, Os Estranhos não é um livro para muitos, mas deveria ser lido por todos que apreciam uma boa história de ficção-científica bem construída.